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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Londrina e Hilda Furacão

Estava escrevendo aqui que estou lendo "Perto do Coração Selvagem" da Clarice Lispector e "A Insustentável leveza do Ser" de Milan Kundera e estava esquecendo de "Hilda Furacão" de Roberto Drummond.
Indo para Jacarezinho no feriado de dia 12 de outubro, parei por uma hora no terminal rodoviário de lá. Desde as primeiras vezes em que lá estive, senti uma grande nostalgia. Acho que as rodoviárias trazem este sentimento muito forte para mim, todas as mudanças, as viagens, os retornos chorosos, o iogurte que minha irmã comprava para mim, mesmo sabendo que minha mãe falaria que ele era o culpado de meu mal estar durante a viagem...
Acho que tinha uns 12 anos quando comecei a passar por aquela rodoviária. Estávamos morando em Santo Antônio da Platina e era preciso trocar de ônibus em Londrina para chegar a Apucarana, onde acreditava que estavam minhas raízes mais fortes. Depois, quando deixamos Cornélio Procópio para residir em Maringá, percebi que as raízes podem ser fincadas em diversos lugares. Mesmo que elas não cresçam com a mesma intensidade de onde é cultivada com mais dedicação, ela sempre tem uma parte dormente, que ao menor estímulo revela o poder dentro de si.
Na época desta última mudança em família, passei por momentos não muito agradáveis, mas com 13 anos, já podia ir de ônibus sozinha para Cornélio rever meus amigos. Acho que a impressão que tive das rodoviárias foi herdada daquele tempo. Esperei horas e horas em Londrina, em Cornélio. Não via a hora do ônibus chegar, mas quando ele deixava a plataforma e se afastava,...
Depois fui para Londrina, onde fiz jornalismo. No primeiro ano de faculdade, quando vinha para Maringá quase todo fim de semana, sempre comprava passagem no ônibus das 17 horas. Saia da aula meio-dia, tinha um ônibus 14 e 15, mas morria de medo de perder no horário. Muitas vezes chegava antes deste primeiro ônibus sair...ficava naquele terminal redondo, sem fim, olhando os artesãos montar as barraquinhas para as feirinhas de sexta...Descobri o maravilhoso suco da rodoviária - um dos poucos lugares que saio da zona de conforto do meu suco de laranja para experimentar algum sabor com uva ou morango (quase sempre os dois).
A ida, Londrina-Maringá era cheia de expectativa, mas a volta...pegar a leste-oeste...passar pelo terminal urbano...entrar na rodoviária era uma tristeza só. Domingo à noite já não costuma ser uma noite boa, quando você tem aula no outro dia e deixa em outro lugar pessoas queridas,...
Mas o tempo é incrível...comecei a me acostumar com aquele lugar. Como em outros lugares da cidade, fiquei muito satisfeita ao saber que aquele lugar tinha sido a zona boêmia de Londrina desde o início da cidade e que a demolição de todas as casas e, posteriormente, a construção da rodoviária tinha sido um jeito de encobrir aquela parte "vergonhosa" da história da cidade. Achei a construção super pertinente...nostálgica como deve ser um lugar de despedidas e encontros...
Como último trabalho da faculdade, criamos uma série radiofônica homenageando a história da cidade, em 2009. Entre os entrevistados, Edson Holtz, autor do livro "Noites Ilícitas" contava
sobre sua pesquisa, exatamente sobre esta Londrina, tão esquecida. Em um trecho, lembro-me, que ele diz (não com estas palavras, mas de forma muito mais bonita e poética) que embaixo daquele concreto todo, ainda ecoavam risadas e estouros das garrafas de champanhe da época de ouro da zona boêmia da cidade.
Então, neste dia 12 de outubro, entrei na banca de revista da rodoviária para comprar o livro que tinha visto na ida a Jacarezinho, "Hilda Furacão". Lendo sua contra capa, descobri que o autor tinha inspirado o frei protagonista em seu amigo frei Betto, o que me deixou curiosíssima. Como este mês vou para Belo Horizonte, tive certeza de que aquele livro não estava ali por acaso e antes mesmo do fim daquele dia já estava pensando em Hilda Furacão, a garota do maiô dourado que chocou a capital mineira no fim da década de 50.
Quase devorei o livro e agora consigo entender porque a minissérie foi um sucesso tão grande da Globo. Para pessoas curiosas, é aquele tipo de livro angustiante...as descrições são tão perfeitas que eu custo a acreditar que a Hilda é um personagem totalmente fictício. Como uma pessoa extremamente interessada na cultura brasileira ligada à ditadura militar, passei a recomendar a todos brasileiros, como uma forma sutil de nos levar a questionar os vinte anos mais tristes de nossa história.



Abandono Total e retorno a Moby Dick

Nossa, que tristeza deixar o blog assim...tão solitário nesta rede louca que é a internet...
mas antes que cancelem minha conta (nossa, que drama) vou escrever um pouquinho aqui....
Lembram do Moby Dick? Acabei de ler!
Acho que poucas vezes li um livro com tantos detalhes. O Herman Melville descreve todos os detalhes da pesca da baleia, o que super humaniza a atividade.
Eu sei, eu também morro de dó das baleinhas (ou baleiazinhas) que de inhas não têm nada, já nascem maior que um homem adulto, mas na época era tão comum e necessário que não dá para condenar...
Por exemplo, eu não como peixe por alguns motivos, um deles é que você chega no mercado e vê ele lá, inteirinho no gelo, quase te olhando. Mas eu como carne de frango....e vai dizer que não é estranho igual olhar para um frango assado e ficar com água na boca?! Acho que desviei um pouco do assunto. Mas somos assim mesmo, cheios de contradições...morro de compaixão ao ver um boi com aquele olhar e com as orelhinhas levantadas, mas logo esqueço ao ser convidada a um churrasco...mas ao pensar em comer carne de cachorro...ai meu Deus!!! Enquanto indianos devem pensar, "como eles podem comer um bicho sagrado?"
Voltando ao Moby Dick, de qual forma eu iria saber que as cachalotes (uma espécie de baleia) têm litros e litros de óleo na cabeça para ajudar na flutuação, e que este óleo custava vidas de um monte de baleeiros e era usado até de remédio?
Não vou negar que no começo fiquei extremamente confusa...muitas palavras diferentes, o dicionário on-line ajudou no começo, mas depois que você pega o jeito fica mais fácil...
O narrador estava a bordo deste navio baleeiro, comandado por Ahab, um homem aficcionado por caçar o lendário Moby Dick (um cachalote branco cheio de lendas de seus ataques enfurecidos e, praticamente, imortal) para vingar-se por ter perdido uma perna em um ataque da baleia.
Não gosto de contar o final, mesmo sabendo que o livro é muito maior que o desfecho, outro dia conto uma história que explica esta minha agonia por spoilers!! hehhehe