Domingo de manhã na Praça Santos Andrade |
- Você vai?
- Não sei, na verdade não conheço a obra dele, acho meio chato ir sem conhecer nada...
- E qual o problema? Às vezes conhecemos as coisas ao contrário mesmo...
E depois desta conversa com a minha irmã fui em meu primeiro programa cultural após a minha mudança para Curitiba. Desta vez sem (muitos) atropelos, de mala e cuia, desembarquei na capital. Alugamos um apartamento aqui no Centro e durante uma visita ao shopping para ir a Etna ver coisas para a casa dei um pulinho na Fnac e peguei a programação da livraria. Na sexta-feira, 24 de agosto, quando o poeta paranense completaria 68 anos, eles promoveram este bate-papo com Áurea, jornalista, e Estrela, cantora e poetisa, filhas de Paulo Leminski. O namorado também curtiu a ideia e aproveitou para ir a um happy hour...
Não posso falar que eu aproveitei tanto a conversa quanto aqueles conhecedores e estudiosos da obra de Paulo Leminski que podiam estar no público (umas 30 pessoas, achei excelente para uma sexta-feira à noite), mas serviu para ficar com aquela coceirinha de vontade de ler o máximo que puder e aproveitar as novidades que a família está programando para o próximo ano. Além da publicação prevista da obra completa em poesia pela Companhia das Letras até o fim do ano, um website pauloleminski.com.br trará parte da obra literária dele além de entrevistas, fotografias e outros, uma grande exposição no Museu Oscar Niemeyer, regravação de suas músicas,...
Como não havia lido nada de Leminski, fui mais interessada em curiosidades. Sou daquelas que se recusam a acreditar que certas pessoas, principalmente destas com o nome em livros e com estudos sobre a sua obra, tiveram uma vida "normal". Pelo pouco que as filhas falaram "do Paulo" - como elas se referiam ao pai - deu para ver que ele sempre teve algo de gênio mas esteve aqui, circulou pelas ruas da capital e deixou não apenas admiradores de seu trabalho como amigos. Será que sou eu ou outras pessoas também tem esta tendência a considerar mitos ainda mais mitos?
Segundo as filhas de Leminski, ele estudou no Mosteiro de São Bento em São Paulo, trabalhou como redator publicitário em Curitiba para sustentar a família - a segunda esposa é a também poetisa Alice Ruiz -, pedia para as crianças não atrapalharem porque estava"no meio de uma ideia", passou dias respondendo ao questionamento de Áurea a respeito da Revolução Russa o que o levou a outra ideia, ensinava Estrela a atirar facas na parede de madeira da casa em que moravam.
O que me deixou mais intrigada foram os Perhappiness. Eventos culturais que marcaram uma geração de curitibanos. Como todos os paranaenses sabem, nós do interior (e acho que no Norte onde nasci e cresci isto é mais acentuado) não temos uma ligação com a capital. A primeira vez que vim para Curitiba para passear foi em 1994. E com os seis anos que tinha na época já havia visitado muito mais de São Paulo capital. Para mim ouvir falar dos Perhappiness (palavra que vem do neologismo criado por Leminski que é a união das palavras perhaps e happiness formando uma "talvez felicidade") foi novidade total e fiquei empolgada com as filhas do poeta falarem que querem retomar estes eventos dedicados à cultura. Eles devem começar durante a exposição no MON que deve seguir os moldes da Ocupação Itaú promovida em 2009 em SP também homenageando Leminski.
Mais uma novidade que me empolga mas nem a família do poeta sabia confirmar - apesar de haver noticias como estas aqui e aqui e constar até na Wikipédia - é a criação do Museu da Poesia que seria batizado com o nome do escritor, assim como a pedreira desde 1989. Bom, o prédio dos Correios que dá de frente para o prédio da Universidade Federal do Paraná (UFPR) na Praça Santos Andrade está em reforma. Vou torcer para que este sonho da família Leminski e de muitos curitibanos e paranaenses se realize. A quatro ou cinco quadras de casa, ia adorar mais ainda!
* Para os curiosos como eu, além dos videos abaixo aqui tem um blog em que são publicadas poesias de Paulo Leminski.
** Para os apaixonados por literatura em geral, dia 10 de setembro começa a Semana Literaria 2012 do Sesc. Este ano o homenageado no Paraná é o escritor Dalton Trevisan. A programação de Curitiba esta nesta página e no menu superior dá para mudar a cidade para descobrir o que tem na sua cidade.
agora eu tb quero ler!!!! nao conheço nd dele tb, q paranaense desnaturada....
ResponderExcluirEu andei lendo alguns textos do Leminski e tenho um amigo em Curitiba, da "safra" do Leminski, que toca violão e já curtiu muitas prosas e som com o escritor e multimídia que se foi cedo, como muitos outros genios. Era assim o nosso Maluco Beleza das Araucárias. E na versão passada do evento com os Escritores do SESC, assisti um belo bate papo com a Alice Ruiz e o escritor Mauricio Carpinejar. Anotei uma porção de coisas.
ResponderExcluirDias atrás fui ver a versão recente do evento da Literatura do SESC e o homenageado foi Dalton Trevisan (li muitos livros dele e gosto muito do estilo dele escrever). E vieram o Luis Henrique Pellanda e o gaucho João Gilberto Noll. Não conhecia nada do Noll, que tem uns 4 premios Jabuti, 19 livros publicados, contos entre os 100 que se recomenda que todos devem conhecer, que deu aula em Berkeley, teve bolsa de escritor na Inglaterra e tudo o mais. Noll disse no meio da conversa que a literatura o salvou. Que seu primeiro livro, escreveu trancado (por opção), janelas fechadas, luz acesa, escrevendo, escrevendo. Os genios são um tanto estranhos... E vem a pergunta: O que é ser normal, afinal?